Confrontos entre manifestantes e policiais resultaram na morte de duas pessoas nesta quarta-feira, 18, no sul do Peru. As duas mortes ocorrem no momento em que milhares de manifestantes que pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte e do Parlamento começam a chegar à capital, Lima. Os confrontos acontecem às vésperas de uma grande marcha em Lima e uma greve nacional.
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Pouco após o anúncio das mortes, um grupo incendiou uma delegacia e a sede do Poder Judiciário, de acordo com a imprensa local. Agentes da polícia foram resgatados por um helicóptero durante o ataque à delegacia, informou o Canal N.
O Peru vive intensos protestos desde a primeira semana de dezembro do ano passado, quando o Congresso destituiu o presidente Pedro Castillo, que fracassou na tentativa de impor um golpe de Estado, com o qual pretendia fechar o Parlamento, governar por decreto e convocar uma Assembleia Constituinte.
Castillo foi preso e levado para uma prisão para autoridades em Lima. Segundo a Promotoria, no dia de sua captura, ele se dirigia à embaixada mexicana para pedir asilo político.
O epicentro dos protestos é Puno, uma região de indígenas aymaras e historicamente renegada pelo poder público. Os protestos começaram nas regiões andinas do sul do Peru e chegaram a Lima.
A então vice-presidente Dina Boluarte substituiu Castillo na presidência, de acordo com a lei, mas o alto número de vítimas fatais da repressão imposta pelas forças de segurança motivou a indignação contra ela.
Boluarte afirmou que não renunciará e propôs ao Congresso, dominado pela oposição de direita, adiantar as eleições, que seriam em 2026, para abril de 2024, quando termina seu mandato.
Centenas de manifestantes ficaram dentro da Universidade Nacional Maior de São Marcos e anunciaram que, nesta quinta-feira, 19, participarão da marcha "Cuatro Suyos", referindo-se às quatro regiões que compuseram o império inca até o século XVI e à outra mobilização com o mesmo nome que ocorreu em 2000, quando milhares de peruanos protestaram contra o governo do então presidente Alberto Fujimori (1990-2000), que renunciou meses depois.
"Todos os dias eles estão se unindo mais e a força nasce de todas as províncias para se livrar de um criminoso que ameaça a vida de nossos irmãos", disse um manifestante que chegou dos Andes, mas que preferiu não ser identificado.
Do lado de fora da universidade, os manifestantes podiam ser vistos cozinhando em panelas comunitárias e colocando pequenos colchões no chão de concreto para descansar. Eles vêm principalmente do sul, onde estão os três centros mais importantes das mobilizações, que deixaram 720 feridos e 50 mortos em mais de um mês.
Outros manifestantes de várias regiões do Peru descansavam perto da Plaza San Martín, uma área tradicional do centro histórico onde há décadas acontecem manifestações, mas que agora foi tomada pela polícia, que não permite concentrações em seu interior.
"Lima, que não havia aderido aos protestos da primeira fase em dezembro, depois do massacre de Juliaca, decidiu aderir", disse Omar Coronel, professor de Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica de Lima, em referência ao ocorrido em Juliaca, na região sul de Puno, onde no dia 9 de janeiro agentes enfrentaram manifestantes que tentavam entrar no aeroporto, deixando 18 mortos, além de um policial morto.
Coronel indicou ainda que, há quase uma semana, há marchas diárias. "Você vê não apenas no centro de Lima, mas no centro financeiro, no centro das áreas mais ricas da cidade, como Miraflores, milhares de jovens marchando". Ele especificou que não são protestos massivos, mas "já temos alguns milhares de jovens marchando diariamente por essas áreas onde geralmente não há protestos".
Enquanto os manifestantes continuam a chegar a Lima, os bloqueios nas principais vias do país continuam, inclusive em oito regiões, onde há 94 bloqueios que afetam 16 rodovias nacionais, segundo as autoridades. (Com agências internacionais)
Agência Estado
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