Na periferia da cidade de Stara Zagora, na Bulgária, decorre anualmente um mercado de noivas ciganas. "Quanto vale o teu dote?" é uma das perguntas que mais se ouve entre os potenciais maridos das jovens debutantes
Clique aqui para ampliar (Foto:JAMÈL VAN DE PAS) |
Durante o mercado — que pode ser visto, no fundo, como uma grande reunião ou uma festa —, a interacção entre os jovens passa por uma questão: “Quanto vale o teu dote?” Quando dois jovens sentem uma atracção mútua, a família do rapaz oferece entre centenas a milhares de euros à família da noiva, dependendo da formosura da debutante e do estatuto económico da sua família. Um dos aspectos fundamentais é o estado de virgindade da futura esposa. Se a noiva não for virgem, o seu “valor de mercado” é nulo: o que pode parecer apenas um detalhe torna-se um factor-chave na vida destas jovens. Para poderem manter a honra intacta e o “valor comercial”, as garotas são, em muitos casos, retiradas da escola prematuramente pelas famílias, que crêem assim controlar todas as interacções com o sexo oposto.
Noutros tempos eram as famílias quem decidia, em função do estatuto e quantia oferecida pela família do proponente, quem seriam os maridos das jovens ciganas; hoje, prevalecem as noções de amor correspondido e de harmonia entre clãs. Não é obrigatório, para os jovens, encontrar um par durante o evento. É cada vez mais comum, até, que dele saiam sem qualquer perspectiva futura ou compromisso. Mas existem excepções a este estado de relativa liberdade. Quando a família de uma menina é pobre, a probabilidade de que lhe seja imposto um casamento aumenta em função da oferta monetária da família do “noivo”.
As novas tecnologias têm tido, na última década, um papel preponderante na formação de novos casais, motivo pelo qual a feira tem perdido impacto, presenças e adeptos. É, em muitos casos, no contexto das redes sociais que os membros da etnia kalaidzhi encontram pares românticos. A questão do dote está presente, independentemente de os jovens se terem conhecido durante o mercado ou não. É uma questão transversal. Após o matrimónio, a vida das mulheres kalaidzhi passa por obedecer ao esposo e cuidar, estritamente, da casa e dos filhos.
Existe um paralelo evidente entre a realidade presente desta etnia e a história recente da sociedade ocidental. Há algumas décadas, em países do Ocidente, também a virgindade feminina era uma obrigatoriedade; também a acção feminina se restringia à esfera doméstica, afastada do mundo laboral; também eram raros e reprováveis os casamentos entre pessoas de raças e estratos sociais díspares. “Neste contexto, falamos de uma comunidade que é segregada num país traumatizado pela pobre transição do socialismo para o capitalismo; os grandes passos que essa comunidade tem dado em direcção à modernidade são, assim, dignos de aplauso”, opina o holandês. “Concluí que, hoje em dia, este evento é organizado sobretudo para dar oportunidade aos jovens de passarem tempo uns com os outros, na esperança de que algum romance possa nascer desse encontro.”
PublicoP
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