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Por que a comida está tão cara no Brasil? Entenda a alta de preços dos alimentos

terça-feira, 8 de novembro de 2022

/ por Fermiano Silva

 A produção de alimentos ficou mais cara no Brasil em 2022 em relação ao ano passado, quando os custos já estavam em alta. Alguns fertilizantes aumentaram até 125% de janeiro até setembro e impactaram no balanço de agricultores e pecuaristas, apontou o projeto Campo Futuro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Clique na imagem para ampliar(Foto:Getty images)

O movimento de alta nos custos ainda é reflexo da instabilidade da oferta mundial de comida e insumos agropecuários, agravada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, e de problemas logísticos no país e no mundo.
Os preços da ureia, MAP (fosfato monoamônico) e KCL (cloreto de potássio) ficaram 94%, 71% e 125% mais altos, respectivamente, de janeiro a setembro deste ano, em comparação ao mesmo período de 2021, em valores nominais. Adversidades climáticas nas regiões produtoras também refletiram no encarecimento das safras em 2022.

O custo com defensivos também aumentou. O glifosato, herbicida mais utilizado nas lavouras do Brasil, acumulou alta de 45% em 12 meses até setembro deste ano. O diesel foi outro fator que pesou nos custos dos produtores rurais, tanto na colheita da safra passada quanto no plantio da atual. De janeiro a setembro de 2022, a alta é de 26% no preço do combustível. Nos últimos 12 meses, o incremento foi de 44%.

Carro-chefe do agronegócio nacional, a soja foi prejudicada pelo clima adverso em boa parte das regiões produtoras, o que diminuiu a produtividade e a rentabilidade das lavouras no Sul e parte do Centro-Oeste e Sudeste. Na média, a receita bruta dos sojicultores caiu 8,3% na safra 2021/22 em comparação com a temporada 2020/21. O custo operacional efetivo (COE) cresceu 34,6% entre os ciclos.

A produção de milho também foi afetada pela falta de chuvas. Os custos aumentaram 31,1% na média nacional na safra de verão e 56,7% na segunda safra. O faturamento dos agricultores caiu 7% no período.

Nas culturas de arroz e feijão, o que mais pesou foi o aumento de 50% e 80%, respectivamente, com os fertilizantes. Para o trigo, que ganhou ainda mais relevância com a situação da Ucrânia, o destaque foi a queda na rentabilidade, apesar do aumento do preço médio recebido pelo produtor e da colheita maior. Os custos cresceram 58% na última safra. Na cana, o aumento do COE alcançou 46% nesta safra em comparação a anterior nas regiões pesquisadas.

Pecuária

Já na pecuária de corte, os valores obtidos pelos pecuaristas que trabalham com o sistema de recria e engorda pela arroba comercializada caíram 9,7% e nos modelos de cria o valor médio do bezerro diminuiu 11,4% no acumulado. A atividade é impactada pelos gastos com suplementação, principalmente com sal mineral importado, cujas altas foram de 29,9%, para sistemas de cria, e 12,9% para os de recria e engorda.

Na pecuária leiteira, os resultados de margem líquida foram negativos em cinco das 12 regiões pesquisadas pela CNA. A alta dos insumos agrícolas encareceu a produção de forrageiras. Com isso, os desembolsos com a alimentação do rebanho imobilizaram nas regiões pesquisadas, em média, 48% da receita gerada com a venda do leite. Para os sistemas mais intensivos, esse desembolso variou de 58% a 69%, com a aquisição de ração comprometendo 35% da receita gerada por litro.

O preço da ração na pecuária de corte e leite teve incremento de 11% na média de janeiro a setembro na comparação com o mesmo período de 2021. O sal mineral teve alta de 50%. Ao considerar um período maior, desde o início da pandemia, em março de 2020, “o setor vivencia uma alta acumulada até setembro de 96% no preço da ração”, disse a CNA.

Suinocultores independentes estão desembolsando mais dinheiro com a nutrição dos animais. Nesses sistemas, a ração representa 84% do custo. Para os integrados, os altos custos fixos foram os fatores preponderantes para os resultados de margens líquidas negativas observado na maioria das propriedades modais.

Na aquicultura, todas as regiões do levantamento apresentaram resultados positivos para margem bruta “sendo, portanto, atrativas no curto prazo”, disse a CNA. “Quando analisamos a viabilidade das propriedades no médio prazo, ou seja, que apresentaram margem líquida positiva, apenas 57% das propriedades modais conseguiram arcar com as despesas de pró-labore, depreciações dos ativos imobilizados e os custos correntes do dia a dia”, disse em nota.

A CNA levantou os custos de 11 atividades agropecuárias em 116 municípios de 21 Estados brasileiros em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Pecege (Esalq/USP), Labor Rural (Universidade Federal de Viçosa), e o Centro de Inteligência de Mercados da Universidade Federal de Lavras.

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