O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assinou nesta terça-feira (29) uma lei que torna o linchamento crime de ódio no país, um pedido de mais de um século de defensores dos direitos civis.
Nos EUA, os linchamentos estão diretamente ligados à herança racista da sociedade que, por anos, promoveu execuções sumárias contra a população negra sem a devida punição aos agressores.
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A lei promulgada nesta terça, em cerimônia no Jardim das Rodas, da Casa Branca, leva o nome de Emmett Till, um adolescente negro torturado e assassinado em 1955 no estado do Mississippi.
Punido por ter, supostamente, assobiado para uma mulher branca, ele foi sequestrado por familiares da jovem. Sua morte se tornou um símbolo da luta pelos direitos civis.
O projeto foi aprovado pelo Congresso americano em 7 de março, depois de mais de um século de tentativas fracassadas de tornar a prática em um crime federal.
"O linchamento é uma prática de puro terror, para impor a mentira de que nem todos, nem todos, pertencem à América, nem todos são criados iguais", disse Biden.
"A lei não é apenas sobre o passado. É sobre o presente e nosso futuro também. Das balas nas costas de Ahmaud Arbery a inúmeros outros atos de violência, inúmeras vítimas conhecidas e desconhecidas", disse o presidente americano.
"O ódio racial não é um problema antigo, é um problema persistente, um problema persistente. O ódio nunca vai embora. Ele apenas se esconde. Dando apenas um pouco de oxigênio, ele volta rugindo, gritando. O que o impede somos nós, todos nós temos que pará-lo."
O que diz a lei?
A nova lei torna possível punir agressores que matam ou ferem gravemente pessoas por motivações raciais, por exemplo, explicou o autor do projeto, o democrata Bobby Rush, à Associated Press.
O texto aprovado torna o linchamento um "crime de ódio" para as autoridades federais, com pena máxima prevista de 30 anos de prisão.
"Crime de ódio" é uma categoria separada dos delitos que podem ser punidos, nos quais as vítimas têm em comum suas características pessoais: raça, religião, sexo.
Quem foi Emmet Till?
Emmett Till, um adolescente de 14 anos de Chicago, foi sequestrado e assassinado em agosto de 1955, quando visitava parentes no estado segregacionista do Mississippi.
Uma mulher branca, Carolyn Bryant, afirmou que ele assobiou para ela e tentou apalpá-la. O corpo do adolescente foi encontrado mutilado, em um rio, 72 horas depois de seu sequestro.
A mãe de Emmett Till exigiu que seu caixão permanecesse aberto em seu funeral, para que o mundo visse o abuso que ele havia sofrido. As fotos do corpo mutilado entraram para a história.
'Justiça' americana
Preso pelo assassinato, Roy Bryant, marido de Carolyn Bryant, e J.W. Milam, seu meio-irmão, foram absolvidos por um júri composto exclusivamente por pessoas brancas.
Protegidos pela decisão do júri, os dois homens brancos então contaram a uma revista como mataram o adolescente. Eles morreram em 1994 e em 1981, respectivamente.
O Departamento de Justiça reabriu a investigação sobre o assassinato de Till em 2018, depois de Carolyn Bryant (hoje Carolyn Donham) ter desmentido partes de seu testemunho em entrevistas.
De acordo com o Departamento de Justiça, porém, Donham "negou ao FBI ter retratado seu testemunho e não deu qualquer informação, além do que foi descoberto durante a investigação". Em dezembro daquele ano, o departamento encerrou sua investigação sobre o assassinato.
G1
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